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Universo em transe

Raul Boeira

Compositor, violonista, cantor e escritor

UMA VIAGEM PELA HISTÓRIA MUSICAL DE PASSO FUNDO

 

DO SALÃO DO COMÉRCIO AO PAROLE BAR

 

       – Pai, porque você aceitou escrever isso pro jornal?
       – Acho que é porque eu respiro música.
       Foi a resposta que dei ao meu filho e que me levou a indagar: o que leva uma pessoa a interessar-se pela música? Essa “arte e ciência de combinar os sons de modo agradável aos ouvidos”, numa definição fria e exata do grande Aurélio. O que leva um ser humano a aproximar-se de outros para, em torno de um instrumento, aprender, ensinar, compartilhar, desfrutar, encher a alma com esses sons de vida tão breve? De onde vem essa magia que faz com que a gente, por alguns momentos, consiga abstrair o mundo e concentrar-se, em total abandono, num timbre, num toque, num sopro, num solo, numa melodia? Será que vem do sangue? Será hereditário? Será contagioso? Será pura falta do que fazer? Não sei as respostas. Sei apenas que gosto de música. Gosto da música. Gosto dos músicos. E, se me perguntarem o que sou, meu coração responderá: sou músico!
       E só por isso é que aceitei, com muito prazer, o convite de O Nacional para escrever algumas linhas sobre o panorama da MÚSICA POPULAR em nossa cidade, ao longo dos tempos. Não pretendo e nem tenho condições de escrever um tratamento ou um documento histórico exato e definitivo sobre o assunto. O que coloco no papel, a seguir, pode até não refletir a verdade absoluta. Isso porque a tendência a fantasiar a realidade é inerente ao artista. Além disso, os dados, as datas e as histórias que aqui vão são fruto de lembranças. Minhas e das (poucas) pessoas com quem consegui conversar nestas (poucas) horas que tive para fazer a minha rápida viagem pelo passado musical da nossa Passo Fundo. O esquecimento de alguns nomes será inevitável, pelo que peço desculpas.
       Mas confesso a minha surpresa com o que me foi revelado. Nossa cidade possui um passado musical imenso, repleto de personagens e de acontecimentos marcantes. E toda essa riqueza não merece perder-se no tempo ou permanecer apenas nas recordações daqueles que a vivenciaram. É preciso resgatar essa memória musical.
       Quem sabe, alguém se aventura, mergulha nesse passado e perpetua em livro essa história. Fica a minha sugestão.

 

Seu Luiz, recordando os anos 30

NO SALÃO DO COMÉRCIO

       – Eu sempre toquei violão, mas, naquela época, eu não era músico efetivo. Mas andava pela noite e conheci toda aquela turma.
       Quem me fala é o seu Luiz Valmir, barbeiro, puxando da carteira antigos recortes de jornal. E prossegue: Em 1934, havia o Cabaré do Liconte, na esquina da Chicuta com a Osório, ali, ao lado da CRT. Era um dos mais famosos do Brasil. Tinha 102 quartos. Havia música de domingo a domingo. Segundo o seu Luiz, os músicos podiam se dar ao luxo de escolher onde tocar. As alternativas eram inúmeras e estavam todas ali, na Quinze de Novembro: a Toca da Onça, o Dancing da Chica, o Maria Preta, o Royal, o Farol Vermelho e, o mais famoso de todos, o Cassino da Maroca. Todos esses locais tinham música ao vivo. A gente se encostava no balcão, pedia uma cerveja e dava pra criar teia de aranha ouvindo boa música, revela o seu Luiz. Lá pelos quarenta, famosa era a Típica do Maestro Zabalía, importada do Uruguai, e que contava com três bandoneons, três violinos, piano e contrabaixo. Mas a noite boêmia dançava, também, ao som de músicos locais de alto quilate: Aristeu e Célio Barbosa, Milico, Costinha, Flávio, Espíndola, Homero, Tonico, Amantino, Bonifácio, Pica-pau e muitos outros. Todos tocavam por música, revela, orgulhoso, o seu Luiz.

 

O cantor Neuri Nunes (centro) e o Quinteto Drink (Raí, Nei, Odilon, Ivinho e Mário Barros)

DAVA PRA VIVER DE MÚSICA

      Quem garante é o acordeonista Ivinho Stefani, que começou a tocar em 1958. Segundo ele, toda a sexta-feira, junto com o trem, chegavam os “coronéis” e os fazendeiros vindo de toda a parte. Era uma fartura. As casas lotadas. As gorjetas generosas. O Cabaré das Flores, a Boate Calypso, nos autos da Petrópolis.
      Além dos inferninhos, os músicos atuavam nos cafés e restaurantes. O Haiti, o Amarelinho, que manteve-se de 1947 até 1958, sempre com música ao vivo. Havia, ainda, o Clube dos Caçadores, o Mambo Drink e o renomado restaurante Maracanã, onde Francisco Alves, o Rei da Voz, fez uma de suas derradeiras apresentações.
      Valsas, marchas, sambas, boleros, tangos e chorinhos faziam parte do repertório do Quinteto Drink, formado por Ivinho (acordeom), Mário Barros (guitarra), Raí (piston), Odilon (bateria) e Nei (cantor). Ivinho revela que todos eram músicos muito bons. Naquele tempo, não tinha aparelhagem de som. Era na madeira fria. Tinha que tocar mesmo, relembra o acordeonista. Pede, também, que eu não deixe de citar o nome de Tito Mesquita e da dupla Orlando e Alfredinho, músicos excepcionais.
      Enquanto isso, diversas orquestras eram responsáveis pelo sucesso dos bailes realizados nos clubes sociais. Famosas foram as formações de Célio Barbosa, do Maestro Jacques (que foi o primeiro Delegado da Ordem dos Músicos de Passo Fundo), da Professora Mercedes e do Maestro Alfredinho. O conjunto de Dino Bertoglio e Seus Satélites Musicais atuou no período de 1958 a 1962. Com o cantor Almir Pegoraro e com o guitarrista Sarará, entre outros, era a grande sensação dos bailes, com um repertório que ia das marchinhas aos chá-chá-chás.

Ferri com seu acervo

UM ACERVO INESTIMÁVEL

      Ligo para Antônio Ferri, produtor de vídeo, que faz revelações impressionantes. Conta que, ao chegar em Passo Fundo, em 1961, passou a fabricar equipamentos de som. Apreciador da boa música, improvisou um pequeno estúdio na Rua Morom e deu início a uma série de gravações, registrando, assim, a música dos interpretes, conjuntos e orquestras que atuavam na década de sessenta. Muitas vezes, levava o seu gravador de rolo nos próprios locais onde os músicos apresentavam-se. Mal tenho tempo de anotar todos os nomes que Ferri enumera. Os violonistas Mogar Xavier e Zizi Fontoura. O professor Osvaldo Lara, Canhoto do Bandolim, Caetano Borella, Percival Garcêz. As professoras Reny Sudbrack, Mercedes, Lourdes, Lara (da Escola de Música Fermata). O professor Carino Corso, que tantas vozes educou. O maestro Edu Azambuja, que compôs o célebre “Tango para Passo Fundo”.
      A partir de 1967, Ferri passou a realizar filmagens em cores, colhendo as imagens de apresentações de diversos músicos no restaurante Maracanã, de propriedade de Guilherme Weinhoff. Em 1971, Ferri realizou aquela que, segundo ele, foi a primeira gravação em vídeo cassete feita no estado, perpetuando, nessa oportunidade, a orquestra do Maestro Alfredinho.
Graças a Antônio Ferri, uma parte importante da história musical da cidade pôde ser registrada. Essas gravações constituem um patrimônio cultural de valor incalculável.

O RÁDIO

      O rádio também desempenhou um papel muito importante na cena musical da cidade. Maurício Sobrinho foi o pioneiro na transmissão, ao vivo, dos programas musicais. O auditório localizava-se nos autos da Joalheria Sciessere. Ali, músicos, cantores, cantoras, conjuntos e orquestras puderam mostrar o seu talento a toda a população. No programa Clube do Titio, destacaram-se as cantoras-mirim Lourinha Garcêz e Jane Abgail. Os programas de Meireles Duarte e de Dino Rosa também foram campeões de audiência e deram oportunidade e espaço a uma infinidade de artistas.
      No final dos anos sessenta, era transmitido um programa no qual Volmar Santos, acompanhado ao piano pela professora Mercedes, brindava à todos os ouvintes com um repertório selecionado. Ambos atuaram, também, no conjunto do famoso acordeonista Inoé Hanemann. Tyaraju de Moura, compositor, é quem conta: o público delirava quando Volmar interpretava a canção “Disparada”, de Geraldo Vandré.
      Ferri, com uma ponta de mágoa, me diz, ao telefone: a televisão roubou o público dos cafés e restaurantes onde havia música ao vivo, liquidando com a festa musical que existia na cidade.

Discos lançados pela Vilson Gravadora

GRAVADORA VILSON LTDA.

      A primeira gravadora fonográfica do Sul do país foi instalada em 1965 e, podem acreditar, aqui em Passo Fundo. Tratava-se da Gravadora Vilson Ltda. Sob a direção artística do Maestro Alfredinho, muitos nomes registraram seus trabalhos pelo selo Vilson. Rômulo Goelzer, músico regionalista, foi o primeiro. A Orquestra Montanari, o Coral do Colégio Notre Dame, Luiz Menezes e Darci Fagundes, Os Cantores de Ébano (do Rio de Janeiro), Os Meninos Cantores de Viena e tantos outros fizeram parte do catálogo da Vilson. Antônio Ferri era o responsável técnico dessas gravações.

Os Diferentes – final dos anos 60

CABELO NA TESTA

      Com a explosão do iê-iê-iê, houve uma verdadeira reviravolta nos conceitos musicais. E o músico tradicional viu reduzir-se o seu campo de atuação. Era preciso tocar a nova música ou retirar-se da cena, lamenta Ivinho Stefani, que partiu para o Rio De Janeiro.
      Mas o furacão da Jovem Guarda varria o país, e a juventude queria mesmo era botar pra quebrar ao som das guitarras. Beatles, Roberto Carlos e Renato e Seus Blue Caps. Esse era o repertório básico dos conjuntos Os Diferentes, Os Invasores, The Black Stones e The Cats. Edson Piccinini, que integrou Os diferentes, lembra, emocionado: A gente tocou de 68 a 74. Sérgio Kleimann era o nosso empresário e chegamos a tocar até na Argentina. Aos sábados à noite, tocávamos pelos clubes de toda a região Sul do país. Domingo de manhã, ao chegar dessas viagens, já descarregávamos o equipamento diretamente na Igreja de Santa Terezinha, onde fazíamos a missa das 11h30min com o padre Santinon. Domingo à tarde, incendiávamos as reuniões-dançantes no Centro Social, ao lado da igreja. À noite, o ponto de encontro era a boate do Juvenil. Era uma verdadeira maratona, mas a emoção que sentíamos é uma coisa indescritível.
      Por esses conjuntos passaram: o próprio Edson, Léo Kleimann, Fernando Magro, Ieudi Porto, Bito, Volmar Dalamonta, Porto Alegre, Leonardo Bocanha, Augir, Bidicu, Touro, Romero, Adil, Chinês, Sabugo, Peninha, Fio, Osvaldir, Quevedo e o saudoso e fantástico baterista e cantor Bira Teixeira.
      Edson conta que ainda mantém em sua casa uma aparelhagem e costuma reunir, vez por outra, os antigos companheiros de som, para relembrarem aqueles tempos de “cabelo na testa e botinha sem meia”.
      Deve ser lembrado, também, o nome de Luiz Eugênio, cantor passo-fundense que, nessa época, projetou-se nacionalmente, chegando às paradas de sucesso com o seu iê-iê-iê romântico.

MÚSICA NO GINÁSIO

      A exemplo do que acontecia no centro do país, Passo Fundo também é contagiada pela febre dos festivais. Em 1973, acontece o 1º FEMPO – Festival Estudantil de Música Popular, com os secundaristas lotando o salão do Colégio Notre Dame. O FEMPO resistiu até a sua quarta edição e, apesar do seu caráter amador, projetou um nome importante: Jussara Gomes, cantora e compositora brilhante.

Mário de Itajaí, do Grupo A Torre – 1976

AUMENTANDO O VOLUME

      Enquanto isso, os bailes e reuniões embalavam a moçada. Lá por 74, o conjunto Os Invencíveis, um dos mais requisitados da região, incorpora ao seu repertório o heavy metal, passando a realizar verdadeiros concertos de rock. O palco era o Centro Social. Quevedo era o nosso Robert Plant; Miguel se transformava no nosso Ritchie Blackmore. As paredes do Clube Vera Cruz também estremeciam ao som da bateria do impressionante Touro.
      Ao mesmo tempo, o guitarrista Dutra liderava o seu Reflexo Som, que foi o primeiro conjunto da cidade a adquirir um sintetizador. Era um teclado Moog, pilotado pelo excepcional Chupeta.
      Adelino comandava o seu Conjunto Evolução, onde o destaque ficava por conta do cantor Vitor Cardoso. Vitor segue em atividade, ao lado do tecladista Eliomar Lara, de quem foi aluno em 1974.
      Inúmeros eram os conjuntos existentes naquela época. As viagens também eram frequentes. Quase sempre a bordo das Kombes, lá se iam músicos, instrumentos, aparelhos e caixas de som, amontoados, tocar pelos bailes da vida.
      Lá por 1976, o contrabaixista Fiu, ex-Invencíveis, cria a banda A Torre. O guitarrista Mário, de Itajaí, era a sensação do time. Era, realmente um virtuoso. Tocava de tudo. Das harmonias de João Gilberto aos solos elétricos de Jimi Hendrix. Além dele, A Torre teve a cantora Luíza, os baixistas Chocho e Guinha e os bateristas Touro e Juarez Ferreira.
       Porém, a discoteque espalhava o seu vírus, e o mundo inteiro passava a reverenciar sua excelência, o som mecânico. A Torre desabou. Muitos outros grupos também. Muitos donos de conjunto despediram os seus músicos e passaram a investir na nova onda disco.

A VILA RODRIGUES

      Não tinha erro. Era só subir a Coronel Pelegrine, lá pelas oito da noite. Na Esquina do Perfume, tinha o Feliz e o Gringo. Rodas de viola. Dezenas de violonistas apareciam por lá. O som era brasileiro. Talentos iam florescendo. As informações musicais vinham de todos os lados. Os discos de MPB. Chico, Gil, Caetano. Os discos de jazz, com aquelas escalas tortas. De mão em mão, os livrinhos de violão, com aqueles acordes complicados: as dissonantes.
       Então, chega Dudu Trentin, vindo de Marau, tocando teclado e violão, com seus songbooks e seus methods, mostrando a todos a importância da leitura musical e do aprimoramento técnico. Surge o interesse pelo jazz e pela música instrumental brasileira.
      Feliz transforma-se no Alegre Corrêa e impressiona a todos com o seu domínio da guitarra. Carismático e humilde, mostrou a toda aquela turma que era preciso compor. Criar o próprio som. Com o tempo, a cidade tornou-se pequena para tanto talento. Alegre (que hoje vive em Viena) partiu para Florianópolis e, mais tarde, para Porto Alegre, tornando-se um dos mais reverenciados músicos do estado. Para a Europa, foram, também, Dudu Trentin e Ronaldo Saggiorato, o Gringo.
      Nessa época, o chorinho também tinha os seus representantes na cidade. O Regional do Pacote apresentava-se em churrascarias e nas promoções da AABB. Faziam parte do grupo: Betinho Assunção, Ricardo Camargo, Álvaro Goelzer; além de outros. É Ricardo quem conta: Ganhava-se até algum troquinho, mas a turma tocava mesmo era pelo prazer e pela festa.
      Correndo por fora, Canhoto e a turma da velha-guarda mantinham – e ainda mantém – acesa a velha chama da boemia e da seresta.

ALICERCE

      Lá por 1983, Bibi Marcolan, intelectual e agitador-cultural ligado ao PT/Alicerce, organiza o 1º SOM BRASIL. Era o espaço que a nova safra de músicos estava necessitando. A música tinha um papel importante naquele momento político, e o espírito de participação estava presente em toda aquela juventude. Todos queriam colaborar. Todos queriam tocar e cantar. O público (universitário, em sua grande parte) lotava o salão de atos da Reitoria.
      Ali, tive a oportunidade de, pela primeira vez, mostrar as minhas primeiras composições. Junto comigo, Itinha Arnold, Tonico Bonotto, Alfredo, Preto, Patrícia, Lucimar, Pogito e tantos outros.

2º Festival da Música Universitária: Raul Boeira, Itinha, Mauro e Fernando Góes – 1986

OS FESTIVAIS

      Numa tentativa de aproveitar toda essa efervescência musical, Renato Roratto realiza o 1º Festival da Música Universitária, no Play Center do Clube Juvenil. O primeiro prêmio vai para a banda Água de Cheiro (Alegre, Dudu, Gringo e Jua). Esse festival resistiu até a terceira edição, no de 1985, cuja final foi transmitida ao vivo pela Rádio Passo Fundo e pela TV Umbu.
      Logo em seguida, no mesmo ano, acontece o 1º Canto da Noite. Festival realizado no Bar Um, onde foram apresentadas quarenta e cinco canções concorrentes. A vencedora foi “Terra dos Homens”, interpretada por Tonico Bonotto. A Rádio Planalto transmitiu a finalíssima desse festival.
      Os palcos dos festivais projetaram nomes como: André Veríssimo, Marcinha, Carvalinho e seus irmãos, Renato Falcão, Jorginho, Felipe e Ricardo Camargo.

VITALIDADE

       A música ao vivo retorna aos bares da cidade. São Sebastian, Casablanca, Antonio’s, Kreps, Aguadeiro e Café Cultura.
Em 1982, o guitarrista Dutra e o compositor Tyaraju de Moura lançam um compacto simples com as músicas “Pé de Foguete” e “Meu Menino”. O disco, produzido de forma independente pelos seus interpretes, teve uma tiragem de mil cópias.
      Na segunda metade dos anos oitenta, a Pizzaria Vital, de propriedade do uruguaio Hugo Ricoy e do lendário Maza, passa a oferecer aos artistas e ao público da cidade o seu “palco cultural”. Além da música, aconteciam exposições de pintura e fotografia, apresentações de filmes, peças teatrais. Pela Vital, passaram nomes importantes da capital gaúcha. Por ali tocaram, também, todos os músicos que atuavam na cidade. Compositores, instrumentistas, grupos de rock e de jazz. Foi um marco na nossa história musical. E é ali que um nome começa a se desatacar: Paulinho Saggiorato, que é, nos dias de hoje, um dos mais atuantes músicos passo-fundenses. Com sua guitarra, tem acompanhado nomes como Ricardo Camargo, Marcinha, Djanira, Miro Teixeira, Ricardo Pacheco, Gabi e muitos outros. Tem trabalhado, também, em gravações de discos e de jingles.
      Em 1986, acontece a 1ª Mostra Musical Gente da Nossa Terra. O espetáculo, idealizado por Álvaro Goelzer e Ricardo Camargo, aconteceu no Pupila’s Bar. A Mostra já faz parte do calendário cultural da cidade. No próximo dia 6 de junho, realiza-se a sua sétima edição, junto ao Ginásio do IE.
      Ainda no final da década de oitenta, as rádios da cidade executam canções de Ricardo Camargo: “Bar do Moa”, “Ironia” e “Pedaço da Vida”. Graças ao sucesso alcançado pelo artista, a RBS TV produziu dois vídeo-clipes, que foram exibidos no programa “Sul em Canto”, transmitido em todo o estado.

 

Gringo (lenço na cabeça) e Alegre (último à direita), carreira na Europa

CODA

      O Parole Bar parece ter sido o último reduto da música ao vivo nas noites passo-fundenses. Muitos talentos pisaram naquele palco: Chara Vicente, Carvalinho, Djanira e Miro Teixeira, Bruce Medeiros e, naturalmente, Paulinho Saggiorato.
       A cidade foi crescendo e desenvolvendo-se. São quase 150.000 habitantes. Temos uma Faculdade de Música, TV, rádios e um Teatro Municipal. Entretanto, numa comparação com épocas anteriores, constatamos, com tristeza, que os nossos artistas da MÚSICA POPULAR perderam muito do seu espaço. A música ao vivo praticamente desapareceu dos bares. Os conjuntos de baile são uma espécie em extinção. Os programas de rádio não abrem mais os seus microfones para transmissões musicais ao vivo. A última tentativa nesse sentido foi feita pelo grande professor Jessé e pela Rádio Passo Fundo, no ano passado. Infelizmente, o programa não teve continuidade.
      Nestes tempos de dificuldades para todos, onde só o que conta é a economia, ninguém se arrisca a investir em cultura. Poucos são os que têm dinheiro para gastar em diversão. Diante dessas circunstâncias, poucos são os que se arriscam a viver exclusivamente fazendo MÚSICA POPULAR BRASILEIRA. São verdadeiros heróis.
       A todos os músicos que estão atuando ou que já atuaram pelos nossos palcos e a todos os demais personagens que contribuíram para o brilho do cenário musical de nossa Passo Fundo, o meu aplauso, o nosso aplauso. A cidade agradece.

Escrito por Raul Boeira, texto do Jornal “O NACIONAL” de Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brasil, em 19 de junho de 1995

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